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A fome no país da fartura

data-filename="retriever" style="width: 100%;">No país bonito por natureza, o tirano e sua tirania destruidora evidenciam cada dia mais seus propósitos e objetivos - não deixar pedra sobre pedra - invasão de terras indígenas; destruição de florestas, incluindo fauna e flora; exploração de santuários naturais; liberação de agrotóxicos e garimpo ilegal; incentivo às armas; estímulo aos preconceitos e à deseducação; deturpação do orgulho e símbolos nacionais; depreciação da ciência; desejo insaciável de autoritarismo; desconsideração dos problemas do povo e da nação, para citar alguns. Não bastassem os propósitos, a pandemia devastadora, aos olhos da ciência, assola o país. Os doentes e mortos são contabilizados em centenas de milhares.

O tirano ignora e veste os óculos de uma realidade artificial, paralela. Tiranos jogam com as emoções dos mais frágeis para impor suas verdades, narrativas e domínio. Assim, arregimentam um exército de defensores capazes de vestir os mesmos óculos e empunhar escudos para deslocá-lo do alvo. Negam, criam fatos, realidades e narrativas de desconstrução de verdades em uma distopia coletiva. Em meio ao caos da doença e das consequências, os mais pobres são os mais afetados devido a perda de emprego, a falta de auxílio. Cresce a fome sem poupar ninguém. Sem salário, sem comida, o vazio dá lugar à fraqueza e ao desespero.

A miséria extrema volta a bater à porta de muitas famílias. A ajuda, quando vem, é da própria sociedade que se organiza em mutirões de solidariedade para aplacar o desespero dos famintos ante à inércia governamental. São cestas básicas, pratos de comida, iniciativas de compaixão.

No país dos abismos, enquanto uma parcela significativa não tem comida para pôr na mesa e dar aos filhos, outra festeja novos recordes na produção de grãos. É inexplicável que em vez de se transformar em comida, os cereais da supersafra se transformem em dólares para abastecer o mercado internacional aproveitando a alta do câmbio. É irônico e, no mínimo assustador, constatar que a superprodução sirva apenas para engordar contas bancárias, enquanto semelhantes sofrem de inanição. Dar às costas, fortalece um sistema econômico no qual os ricos tornam-se cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Aprofunda-se ainda mais o abismo social, há alguns anos em franco crescimento.

O peito dói ante a fartura festejada por poucos, enquanto uma legião de miseráveis é expulsa para espaços cada vez mais periféricos, como se fossem sujeira a ser jogada para baixo do tapete. No início da pandemia sonhadores, altruístas, assim como eu, acreditaram que a solidariedade iria aflorar diante de tanto sofrimento e privação. No entanto, o que se viu foi o surgimento de uma dicotomia inaceitável - economia versus saúde, que serve apenas para excluir ainda mais, aqueles que buscam seu lugar em uma sociedade que deveria oferecer oportunidades iguais a todos, indistintamente.

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